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Maya: 'Filme e recordes ajudam a combater o preconceito contra a mulher no surfe de ondas grandes'

Surfista carioca fala sobre filme com sua trajetória, o livro infantil que lançou, o acidente em Nazaré e a volta por cima nos recordes anuais, no Guinness, de maior onda surfada em 2018 e 2020

Entrevista|Eduardo Marini, do R7

Trajetória de Maya foi retratada em documentário
Trajetória de Maya foi retratada em documentário Trajetória de Maya foi retratada em documentário

Surfistas de ondas grandes precisam ter coragem. Mas, no caso da carioca Maya Gabeira, 35 anos, ela, a coragem, é certeza absoluta. Em 28 de outubro de 2013, Maya sofreu um acidente grave na praia do Norte, em Nazaré, Portugal, onde mora atualmente. Um mundo de água caiu sobre a surfista, quebrou um de seus tornozelos e a deixou inconsciente. Depois, ela revelou que, poucos antes de apagar, pensou que daquela não escaparia.

A coragem manifestou-se novamente quatro anos depois, quando ela voltou a enfrentar as ondas gigantescas após uma longa recuperação, que incluiu terapia com psicólogo e muita determinação de vencer na atividade.

Determinação recompensada por várias conquistas após o retorno, incluindo duas premiações do Guinness. A primeira veio em 2018, pela maior onda surfada por uma mulher naquele ano, de 20,73 metros. A segunda, em 2020, dessa vez com um gosto a mais: a maior onda concluída por um surfista naquele ano no geral, homem e mulher.

O paredão de água tinha 22,40 metros de altura, do tamanho de um prédio de oito andares. “Ajuda a combater o preconceito contra as mulheres. Há surfistas homens que acham que eu não estava preparada para estar em Nazaré em 2013. Muitos ainda acham que mulheres não devem surfar ondas grandes.”

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Nesta conversa com o R7 ENTREVISTA, de Nazaré, Maya, filha do jornalista e escritor Fernando Gabeira e da estilista e administradora Yamê Reis, deu detalhes sobre o documentário de trajetória, Maya and the Wave (Maya e a Onda), concluído recentemente, o livro infantil Maya and the Beast (Maya e a Fera, a ser lançado brevemente no Brasil), o primeiro dos três contratados pela editora americana Abrams Books, a empresa de cosméticos lançada por ela e, claro, o surfe de ondas grandes. Relaxe e drope. Acompanhe:

Não participei do processo criativo do filme%2C não dei opiniões nem conferi nada antes%2C para dar total liberdade à diretora. Vi o filme pela primeira vez neste ano%2C no Festival Internacional de Cinema de Toronto%2C junto com todos os que estavam lá. Por sinal%2C o filme foi o vice-campeão na escolha popular da categoria Documentários desse festival. Fui surpreendida como todos

(MAYA GABEIRA)

Gostou do filme Maya and the Wave?

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Maya Gabeira – Muito. É um documentário de longa-metragem, com 1 hora e 35 minutos de duração. Retrata minha trajetória no surfe. A roteirista e diretora, a americana Stephanie Johnes, acompanhou-me nos últimos dez anos. A produção do projeto foi da empresa Uncle Booster, com coprodução de Jorge Leal. Não participei do processo criativo do filme, não dei opiniões nem conferi nada antes, para dar total liberdade à diretora. Vi o filme pela primeira vez neste ano, no Festival Internacional de Cinema de Toronto, junto com todos os que estavam lá. Por sinal, o filme foi o vice-campeão na escolha popular da categoria Documentários desse festival. Fui surpreendida como todos. O filme foi apresentado recentemente no Festival do Rio. Ainda está sem distribuidora no Brasil, mas estamos trabalhando para colocá-lo em circuito comercial.

Surfista na onda de 22,40 metros em Nazaré, Portugal, em 2020
Surfista na onda de 22,40 metros em Nazaré, Portugal, em 2020 Surfista na onda de 22,40 metros em Nazaré, Portugal, em 2020

Fale um pouco sobre os dois recordes anuais de maior onda no Guinness, em 2018 e 2020.

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A primeira onda foi de 68 pés, ou 20,73 metros, a maior surfada por uma mulher no mundo naquele ano. Dois anos depois, peguei uma de 73,5 pés, ou 22,40 metros. Essa foi ainda mais gratificante porque foi a maior onda surfada naquele ano no mundo de forma geral, por homens e mulheres. Ajuda a diminuir o preconceito contra as mulheres no surfe e em outros setores. No surfe de ondas grandes eu sou uma das pioneiras. E, apesar de tudo, estamos encontrando mulheres pioneiras em muitas coisas ainda nos dias de hoje.

Era uma necessidade. Não poderia ceder e deixar que aquele impacto me retirasse das ondas%2C da atividade que eu escolhi desenvolver%2C com muita seriedade e dedicação%2C desde a adolescência. E%2C no meu caso%2C precisei enfrentar também o preconceito dos homens no meio que não achavam que eu deveria surfar aquelas ondas e até dos que pensam que mulher não deve surfar ondas grandes

(MAYA GABEIRA)

Em 2013, cinco anos antes do primeiro recorde, você quase morreu em um acidente grave ao pegar uma onda aí mesmo, no mar de Nazaré. Foi submetida a três cirurgias, duas na coluna e uma no nariz. E conseguiu superar o medo.

O medo e o preconceito. Era uma necessidade. Não poderia ceder e deixar que aquele impacto me retirasse das ondas, da atividade que eu escolhi desenvolver, com muita seriedade e dedicação, desde a adolescência. E, no meu caso, precisei enfrentar também o preconceito dos homens no meio que não achavam que eu deveria surfar aquelas ondas e até dos que pensam que mulher não deve surfar ondas grandes.

Um surfista de ondas apareceu em grandes canais de tevê dizendo, na ocasião, que você não tinha preparo físico, técnico e esportivo para surfar ondas grandes como as de Nazaré…

Isso. Mas ele ganhou um bom espaço no espaço no meu filme.

Pelo erro diante dos recordes e de todo o sucesso que fez depois?

Pois é… (risos)

Você é filha de duas pessoas conhecidas: o jornalista e escritor Fernando Gabeira e a estilista Yamê Reis. A jornalista Leda Nagle é prima de seu pai. Alguém a acusou de ter conseguido espaço por causa dessas ligações?

Que eu saiba, não. Diretamente a mim, não houve. Em primeiro lugar, essas referências existem no Brasil, não no exterior, e eu consolidei minha carreira fora do país. Fui morar no Havaí ainda nova, aos 17 anos, voltei a viver no Brasil com a carreira desenvolvida e hoje moro em Portugal. Além disso, as atividades pelas quais meus pais se tornaram conhecidos e respeitados não têm nenhuma ligação com o surfe. Obviamente havia algumas referências. O Pedro Scooby, por exemplo, me chamava brincando de filha do Gabeira quando eu comecei, aos 14 anos. Mas quase todas as referências foram carinhosas como essa.

É verdade que você não era muito de praia quando criança?

Sim. Curiosamente. Não tinha habilidade como nadadora e não ia à praia com frequência. Minha infância foi mais cercada pelas questões culturais e intelectuais colocadas em casa pelos meus pais. Praia não era um programa típico da nossa família. Mas meu pai começou a nadar seriamente quando eu tinha 11 anos. Eu fazia dança, mas pensava em incluir o esporte na minha vida. Era dedicada: dançava várias horas todos os dias, me apresentava, e tudo. Aí, quando parei de dançar, transferi a dedicação e o empenho para o surfe.

Como surgiu o projeto do livro Maya and the Beast?

É o primeiro de três livros de um contrato com a editora americana Abrams Books. Nele, eu retrato um pouco da minha carreira e do surfe de ondas grandes com linguagem visual e de texto para o público infantil. Brevemente terá uma versão em português. Imaginei que seria mais fácil escrever para criança do que para adultos. Hoje não tenho tanta certeza disso, não sei se é uma teoria correta. Muitos dizem que escrever para crianças, em muitos casos, é mais difícil, mas ninguém me avisou isso. [risos] De qualquer forma, acho que o resultado foi positivo. A editora e os leitores que nos dão retorno gostaram bastante.

Na premiação pela primeira onda recorde, em 2018
Na premiação pela primeira onda recorde, em 2018 Na premiação pela primeira onda recorde, em 2018
Gosto de fazer caminhadas com minhas duas cadelas%2C a Naza [de Nazaré] e a Storm [tempestade%2C em inglês]. Aqui em Nazaré há ótimas áreas verdes para caminhar. São momentos em que faço minhas reflexões%2C coloco ideias e pensamentos em ordem. Curto também assistir a filmes e séries

(MAYA GABEIRA)

O que você curte fazer quando não está pegando onda?

Gosto de fazer caminhadas com minhas duas cadelas, a Naza [de Nazaré] e a Storm [tempestade, em inglês]. Aqui em Nazaré há ótimas áreas verdes para caminhar. São momentos em que faço minhas reflexões, coloco ideias e pensamentos em ordem. Curto também assistir a filmes e séries.

O que planeja para o futuro próximo?

Colocar o filme em escala comercial no Brasil e em outros países. No Brasil, ele foi exibido apenas no Festival do Rio, dias atrás. Pretendo também trabalhar para impulsionar a Blue Aya, a marca de filtros solares, sabonetes e outros produtos do setor, que lancei. Minha mãe, Yamê Reis, é a CEO. As algas e outros componentes dos produtos são fornecidos por trabalhadores de uma comunidade da praia da Baleia, no Ceará, quase todos mulheres. A proposta é construir, realmente, uma empresa sustentável. Nosso protetor solar é físico, e não químico. A diferença é que o físico cria uma barreira natural que protege a pele. Por isso, não agride nossa saúde, o mar e o ambiente. Os filtros feitos com produtos químicos penetram na corrente sanguínea e acabam prejudicando o organismo. E também os corais e outras formas de vida dos mares. O bom de tudo isso é que eu mesma sinto na pele, literalmente, os bons efeitos desses filtros físicos sustentáveis e posso comprovar a eficiência.

Pretende lançar outros livros?

Sim. Meu contrato com a editora americana Abrams Books, que lançou o primeiro, prevê mais dois, que deverão ser publicados em 2023. Também serão para jovens e crianças, com temáticas ligadas ao mar. Criei também uma pequena empresa que cuida de logística de surfe aqui em Nazaré. Pretendo também fortalecer minha parceria com a Unesco em defesa dos oceanos saudáveis e no combate à poluição e à pesca exagerada e predatória.

Vai precisar de tempo e energia para tanta coisa. Boa sorte.

Muito obrigada.

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