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MC Bin Laden: "Sou de favela, fui expulso pela mãe, passei fome. A pausa ajudou a entender o sucesso"

Após longo período longe das luzes 'para amadurecer', compositor de Tá Tranquilo, Tá Favorável volta aos holofotes e às redes sociais com parceria elogiada em faixa de novo álbum da banda Gorillaz

Entrevista|Eduardo Marini, do R7

MC Bin Laden recupera sucesso após longa pausa "para amadurecimento"
MC Bin Laden recupera sucesso após longa pausa "para amadurecimento" MC Bin Laden recupera sucesso após longa pausa "para amadurecimento"

Tá tranquilo, tá favorável.

Em 2015, esse par de afirmações virou, para milhões de brasileiros, uma boa forma de substituir avisos de calmaria, brincadeira, ausência de ladrão (e muitas vezes de polícia), meme, cantoria coletiva, recado de trânsito, comunicado de paz após briga, notícia de mar calmo, relato de previsão do tempo e grito coletivo de jovens e adolescentes, entre outras cenas do cotidiano.

Tudo motivado pela explosão de um funk de mesmo título, composto e gravado por Jefferson Cristian dos Santos de Lima, o MC Bin Laden, 29 anos, nascido no bairro do Brás, região central de São Paulo, e criado numa favela da Vila Progresso, em Itaquera, Zona Norte paulistana.

Tá Tranquilo, Tá Favorável foi regravada por vários artistas, entre eles Lucas Lucco. Virou trilha sonora para dancinha de Neymar e parças na comemoração de gols. Só faltou tocar ao ligar o chuveiro e o ferro elétrico.

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A decisão de adotar como nome artístico o do líder da organização fundamentalista Al-Qaeda, responsável pelos atentados suicidas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, tem rendido alguns incômodos importantes para Jefferson/Bin Laden.

No maior deles, em 2016, um ano depois da explosão de Tá Tranquilo, Tá Favorável, teve o visto de trabalho rejeitado e não pôde pisar em solo americano para fazer dois shows agendados, um deles no badalado Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Trabalhou em 20 países além do Brasil até agora, mas ainda não nos Estados Unidos.

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Nesta conversa de peito e boca abertos com o R7 ENTREVISTA, MC Bin Laden relembra a infância difícil, a expulsão de casa pela mãe aos 12 anos e os primeiros trabalhos como auxiliar de pizzaiolo e vendedor de tênis. E ainda o início no funk e no rap, a adoção por uma pastora evangélica e, claro, a mudança radical de vida e trajetória profissional a partir do estouro do seu maior hit.

O rapper britânico Slowthai apresentou meu som ao Gorillaz. A parceria em Controllah%2C pelo que sei%2C é o single mais executado da versão deluxe do Cracker Island%2C o mais recente álbum deles. O próprio Slowthai aceitou fazer um feat comigo. Penso em convidar mais alguém para esse projeto. Sempre fiz parcerias internacionais. Com o rapper espanhol C. Tangana%2C o DJ e produtor americano Skrillex%2C a cantora americana Kelela%2C e por aí vai. Deverão vir coisas novas com o produtor musical americano Skrillex daqui a pouco

(MC BIN LADEN)

E também a volta recente "e com tudo" aos holofotes, com a participação na faixa Controllah, a mais tocada no Brasil e no mundo entre as incluídas na versão deluxe do álbum Cracker Island, da banda virtual de triprock britânica Gorillaz. Papo tranquilo, papo favorável (foi irresistível). Acompanhe:

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Como foi a parceria com a banda de triprock britânica Gorillaz na faixa Controllah?

MC Bin Laden – O rapper britânico Slowthai apresentou meu som ao Gorillaz. A parceria em Controllah, pelo que sei, é o single mais executado da versão deluxe do Cracker Island, o mais recente álbum deles. O próprio Slowthai aceitou fazer um feat comigo. Penso em convidar mais alguém para esse projeto. Sempre fiz parcerias internacionais. Com o rapper espanhol C. Tangana, o DJ e produtor americano Skrillex, a cantora americana Kelela, e por aí vai. A parceria com o Gorillaz foi muito bem recebida no Brasil e lá fora também. Ele se surpreenderam e eu estou feliz. Estou reembalando a carreira aqui e retomando as parcerias internacionais. Deverão vir coisas novas com o Skrillex daqui a pouco.

Conhece um rapaz paulistano chamado Jefferson Cristian dos Santos de Lima?

Boa. Gostei. Acho que sim. É meu nome de batismo. Estou com 29 anos, filho do meio, com uma irmã mais velha e um mais novo. Meu pai trabalhou com tecido e minha mãe de sangue, que morreu ano passado, era dona de casa. Sou solteiro, sem filhos. Nasci no bairro do Brás, na região central de São Paulo, mas fui muito novo e cresci em uma favela, ou comunidade, da Vila Progresso, em Itaquera, na Zona Leste paulistana. Meu pai se separou da minha mãe quando eu tinha nove anos. Aos 12, ela me expulsou de casa. Disse para eu morar com ele, que estava solteiro, e meus avós paternos.

Minha mãe de sangue me expulsou de casa aos 12 anos. Não tinha feito nada grave até então. Até hoje não entendi os motivos dela. Fui o filho mais maltratado e rejeitado%2C o que mais apanhou e recebeu menos carinho. Acho que ela não gostava de mim. Depois descobri que%2C quando ainda estava na barriga%2C ela tentou me tirar. Com o tempo%2C admitiu%2C em algumas ocasiões%2C o arrependimento por não ter realizado o aborto.

(MC BIN LADEN)

Fez algo de grave até os 12 anos que justificasse essa expulsão?

Não. Nada até aquele período. Sinceramente, até hoje não entendi muito os motivos dela. Posso te dizer que fui o filho mais maltratado e rejeitado, o que mais apanhou e recebeu menos carinho. Acho que minha mãe de sangue não gostava muito de mim. Depois descobri que, quando ainda estava na barriga, ela tinha tentado me tirar. Com o tempo, ela admitiu, em algumas ocasiões, o arrependimento por não ter realizado o aborto.

Continuou os estudos após a mudança para a casa do seu pai?

Fui até a oitava série do Fundamental, aos 16 anos. Parei neste ponto porque precisava trabalhar.

Como você encontrou o funk e o rap e decidiu que seria isso o que faria da vida?

Os contatos com o funk e o rap começaram com a molecada e a rapaziada nas ruas da favela, na Vila Progresso. Comecei a trabalhar fazendo bicos de auxiliar de pizzaiolo. Depois fui vender tênis na Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. Mandava uma rimas e a clientela adorava.

Alguém ou algo te inspirava?

Sempre gostei de música. Cresci no meio do pagode, do rap. O funk carioca e sua ramificação na Baixada Santista me conquistaram, e também a minha turma, na Vila Progresso, em cheio, de cara, na nossa adolescência e juventude. Aquilo mexeu comigo e disse para mim mesmo: também sei fazer minhas rimas, tenho facilidade para escrever e, por isso, vou seguir esse caminho. Comecei, produzimos algumas coisas na comunidade, com os amigos, o negócio funcionou, surgiram as apresentações e está aí: não parei mais. Ouvia MC Kauan, o pessoal da Baixada Santista, a turma que falava da realidade das favelas, ou seja, da minha, mas sempre em observação para desenvolver melhor o meu estilo.

Com que idade você parou de vender tênis na 25 de Março animando os clientes com rimas?

Trabalhei nisso até os 19 anos. Até então, eu e os amigos fazíamos uma ou outra apresentação pela Zona Leste, rolava uma graninha de vez em quando, mas em nossas vidas ainda estava mais para divertimento do que para trabalho. A coisa começou a ficar mais séria e profissional para mim aos 19 anos, quando passei no teste de um escritório de produção musical. Aí começamos a nos concentrar verdadeiramente no funk e no rap.

Com os fantasiados, atrações divertidas nos palcos de seus shows
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Quando Tá Tranquilo, Tá Favorável estourou?

Em 2015. Eu tinha 22 anos. Outras minhas tiveram repercussão nos anos anteriores. Em 2014, por exemplo, músicas como Bololo Haha, Barulho do Motor, Passinho do Faraó e 12 Calibre foram muito bem recebida. Mesmo antes delas outras composições tinham ótima aceitação nos bailes, clubes e casas onde me apresentava. Lança de Coco, por exemplo,foi uma das primeiras. Estourou nas apresentações em São Paulo e nas redes sociais por volta de 2013, meses depois da assinatura de meu primeiro contrato com o escritório de produção. Tinha 19 para 20 anos quando assinei. Mas, sem dúvida, Tá Tranquilo, Tá Favorável alterou radicalmente meu patamar de vida e me fez conhecido em todo o país.

Os caras (do funk ostentação) vinham nos clipes daquele período com os corpos bonitinhos%2C cheios de joias%2C cordões%2C casarões%2C carrões%2C piscinas%2C uma pancada de celulares e computador%2C aquela mulherada linda%2C produzida… Fomos para o extremo oposto daquilo tudo%2C inclusive na questão material e física%2C a da vaidade excessiva. No clipe de Tá Tranquilo%2C retratamos o que a gente vivia no dia a dia. Colocamos a rapaziada de bermuda%2C sem camisa%2C cantando e dançando nas ruas da favela. Gastei 500 pratas na produção do clipe

(MC BIN LADEN)

O chamado funk ostentação havia explodido neste período…

Isso. Os caras vinham nos clipes com os corpos bonitinhos, cheios de joias, cordões, casarões, carrões, piscinas, uma pancada de celulares e computador, aquela mulherada linda, produzida… Fomos para o extremo oposto daquilo tudo, na questão material e física, a da vaidade excessiva. Retratamos o que a gente vivia no dia a dia. No clipe de Tá Tranquilo, colocamos a rapaziada de bermuda, sem camisa, cantando e dançando pelas ruas da favela. Gastei 500 pratas na produção do clipe.

E viu um furacão passar pelas suas trajetórias pessoal e profissional.

Exato. Até 2013 recebíamos cachês partindo de R$ 1 mil, R$ 2 mil. Em 2014, mais profissionalizados, e com um número maior de músicas conhecidas, a coisa melhorou bastante.

Tá tranquilo fez-me aprender uma avalanche de coisas em todos os aspectos%3A pessoal%2C profissional%2C social%2C familiar%2C humano. Foi uma revolução individual. Eu era muito novo. De repente%2C saí de uma rotina simples para viver tudo diferente. Tive que aprender até mesmo como sentar e proceder para comer em lugares que nem sonhava em poder ir um dia. Programas de tevê%2C gente que não imaginava conhecer sequer em pensamento. Tudo isso fora a quantidade de países visitados

(MC BIN LADEN)

Até que, em 2015, veio a explosão.

Isso. Tá tranquilo me fez aprender uma avalanche de coisas em todos os aspectos da minha vida: pessoal, profissional, social, familiar, humano… Individualmente, foi uma revolução. Era muito novo. Saí de uma rotina simples para viver tudo diferente. Tive que aprender até como sentar para comer e como proceder em determinados lugares que nem sonhava em poder ir um dia na vida. Programas de tevê, gente que não imaginava conhecer sequer em pensamento... Fora a quantidade de países visitados.

Quantos?

Vinte até agora, entre eles Egito, Argentina, Portugal, Espanha, Emirados Árabes Unidos, França, Inglaterra Bélgica…

Estados Unidos?

Esse não. Ainda. Houve o problema do visto em 2016, a coisa do nome Bin Laden… Mas será resolvido. Ainda mostrarei meu trabalho por lá.

Cheguei a fazer nove%2C dez shows por semana%2C em torno de 40 ao mês. Além deles%2C quase tudo gera alguma remuneração na internet. Publicidade%2C redes sociais%2C apresentações dentro da internet... Passei fome. Fui comer meu primeiro sanduíche do McDonald’s%2C um sonho de criança%2C só depois de ter começado a me apresentar com funk e rap. Hoje%2C graças a Deus%2C posso sentar na mesa com minha família e ter sobre ela o que a gente quiser

(MC BIN LADEN)

Muitos shows por aqui após o estouro de Tá Tranquilo?

Sim. Cheguei a fazer nove, dez shows por semana. Em torno de 40 ao mês. Além deles, quase tudo gera alguma remuneração na internet. Publicidade, redes sociais, apresentações dentro da internet...

Certamente ganhou uma boa grana.

Passei fome. Fui comer meu primeiro sanduíche do McDonald’s, um sonho de criança, apenas depois de ter começado a me apresentar com o funk. Hoje, graças a Deus, posso sentar na mesa com minha família e ter sobre ela o que a gente quiser. Não ostento forma alguma. Nunca foi e nem é meu projeto de vida. Quando as primeiras músicas estouraram, consegui comprar um imóvel pequeno no Jardim Clímax, na Zona Sul de São Paulo. Com o estouro, adquiri um melhor em Santana, na Zona Norte, e me mudei para lá. Meu pai tem a casa dele, mas passa longo tempo na minha.

Tá Tranquilo explodiu, você estourou, levou seu funk para todos os cantos do Brasil e vários países, mas depois fez uma retirada. Foi intencional?

O mais difícil do sucesso é também algo essencial para conviver com ele: manter a saúde mental. Esse tempo foi importante para eu corrigir erros de comportamento e trajetória, aprender a lidar com o sucesso e as pessoas que me permitem usufruir dele. Deus não me permitiria continuar em evidência sendo uma pessoa ruim. Vim de favela. Não tive educação financeira. Como disse, fui expulso de casa e passei fome. Aos 18 anos, fui adotado por uma pastora evangélica, que me ajudou entre outras coisas, a largar a maconha, mudar o pensamento e entender muita coisa vital para meu futuro. A pausa foi ótima para eu amadurecer e entender todo esse processo que modificou minha vida.

Drogas rolaram na sua vida, não é verdade?

Não até os 12 anos, no curto tempo em que vivi com minha mãe de sangue. Por isso, como disse, nunca identifiquei as justificativas para tanta rejeição por parte dela. Mas, quando fui morar com meu pai, ficava mais na rua. Acabei conhecendo essa vida, né?

Cocaína, crack?

Não. Fumava maconha e de vez em quando cheirava um lança-perfume. Nada mais do que isso. Andava com a turma que usava droga, mas nunca entrei para o tráfico. A maioria dos líderes, gente da região, até me rejeitava e empurrava para fora da coisa porque achavam que eu tinha talento e meu futuro deveria ser na música.

Você disse ter sido adotado aos 18 anos por uma pastora evangélica…

Exato. Marisa Ventura, minha mãe de adoção. A Maíza, que negociou a entrevista com você, é minha tia adotiva, irmã dela. Trabalha comigo até hoje, me orienta, cuida de quase tudo, me empurra para frente. As duas me equilibram e direcionam. Nunca morei no mesmo teto da mãe Marisa, mas ela sempre ia à minha primeira casa, no Jardim Clímax, na Zona Sul de São Paulo, fazer um almoço para mim e dar conselhos. Os filhos dela me consideram irmão e são tidos assim por mim. Ela aconselhou-me, por exemplo, a manter a ligação com meu pai e a me reaproximar da minha mãe de sangue, o que fiz apesar de toda rejeição relatada aqui. Conversei com minha mãe de sangue e ficou tudo bem. Ela morreu no ano passado.

Você hoje é evangélico?

Seria fácil dizer que sim, mas não posso porque, na rotina, não sigo com o rigor devido todos os procedimentos baseados nos dogmas do evangelismo. Gosto demais, no entanto, de ir à igreja evangélica agradecer a vida e as dádivas de Deus. Tento sempre encontrar tempo para ir e vou sempre que consigo.

O que você curte fazer fora dos palcos?

Muitas coisas. Jogar uma bola e assistir jogo de futebol, por exemplo. Sou torcedor roxo do Santos. Acompanho meu time nos estádios sempre que posso. Bater um basquete, ir à praia e fazer um churrasquinho com a rapaziada e frequentar academia são outros prazeres.

Você falou que hoje curte academia. Deve ter emagrecido, porque na época do Tá Tranquilo…

Verdade... Tenho um 1,88 de altura e hoje peso 107 quilos. Naquele período cheguei a ter 142. Faço academia e me alimento com moderação. Tenho nutricionista. Hoje mesmo almocei frango grelhado, um pouco de arroz e uma salada. Bebo muito pouco, quase nada, e muito raramente. Isso ajuda.

Parabéns, mais sucesso e muito obrigado.

O agradecimento é todo meu, queridão. Estamos juntos. Um abraço.

Outro.

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