Entrevista Sergio Aguiar: 'Saí do subúrbio do Rio sem padrinhos e cheguei aqui pelo trabalho. Estou honrado e feliz'

Sergio Aguiar: 'Saí do subúrbio do Rio sem padrinhos e cheguei aqui pelo trabalho. Estou honrado e feliz'

Apresentador do Domingo Espetacular, o jornalista lembra episódios da carreira, revela sua paixão por corrida e diz: 'Não quero cair no clichê, mas, com determinação, ainda é possível voar alto no Brasil'

  • Entrevista | Eduardo Marini, do R7

Resumindo a Notícia

  • Sergio Aguiar, 53 anos, iniciou a carreira na Rádio Tupi do Rio de Janeiro.
  • Antes do DE, apresentou programas na Record, entre eles Fala Brasil e Câmera Record.
  • Considera as coberturas da pandemia na Record as mais importantes de sua carreira.
  • Segurança, clareza e voz potente despertam elogios do público e dos colegas de profissão.
Sergio Aguiar brilha no 'Domingo Espetacular' com segurança, leveza e voz poderosa

Sergio Aguiar brilha no 'Domingo Espetacular' com segurança, leveza e voz poderosa

EDU MORAES/RECORDTV

O jornalista Sergio Aguiar admite com sinceridade: apesar do fascínio exercido pela televisão, não nutria, nos primeiros anos após a formatura, nenhuma esperança de trabalhar em um canal de tevê. “Primeiro, porque sou tímido. Além disso, não tenho jornalista na família nem entre conhecidos que poderiam me orientar”, justifica.

Mas o destino foi generoso com esse carioca de 53 anos, 1,93 metro de altura, jogador de vôlei na adolescência. Generoso pode não ser o termo. Talvez o mais justo seja dizer… justo.

Após coberturas e trabalhos marcantes nas rádios Tupi, onde iniciou como estagiário em 1990, e CBN, na extinta TV Manchete e na GloboNews, no Rio de Janeiro, e em vários projetos da RecordTV, entre eles os programas Fala Brasil e Câmera Record, Aguiar exibe, na emissora,  leveza, voz potente e clareza ao falar, marcas de seus 33 anos de carreira, à frente do Domingo Espetacular. É um conforto tomar conhecimento de uma notícia na levada serena, mas firme e segura, de Sergio Aguiar.

Nessa conversa com o R7 ENTREVISTA, o jornalista e apresentador repassa sua trajetória profissional, lembra episódios curiosos no trabalho e dá detalhes sobre a mais recente paixão: corridas. “Corro quatro vezes por semana, no mínino 10 km por vez”, contabiliza. “Terminei a Maratona de Nova York, a mais importante do mundo, em 2021. Pretendo correr a edição de 2023”. Em todos os sentidos, uma entrevista de fôlego. Acompanhe:

Como o jornalismo entrou na sua vida, e você, na rota do jornalismo?
Sergio Aguiar – Sou carioca da zona norte do Rio. Morei muito tempo nos bairros do Méier e Tijuca. Na adolescência, aos 17 anos, surgiu a necessidade de escolher o curso superior. Não há muito que fazer, mas precisar definir o caminho universitário e profissional tão novo é uma crueldade. Como jogava vôlei na época, pensei em educação física, mas logo desisti por reconhecer que gostava mesmo era do vôlei, e não da profissão. Pensei em história, por gostar da área, mas acabei concluindo que na comunicação social, e dentro dela no jornalismo, teria como trabalhar mais na prática com esses temas. Passei no vestibular e entrei no curso. Não tenho nenhum jornalista na família e também não fui protegido por nenhum deles depois de formado. Sinto-me orgulhoso por ter chegado até o Domingo Espetacular pelo reconhecimento do meu trabalho e de meus valores. Não quero cair no clichê, mas penso que, apesar de todas as dificuldades que sabemos que exisem, ainda há como vencer no Brasil com dedicação e determinação.

Entrei na Rádio Tupi do Rio como estagiário, em 1990. Não havia o conforto nem a funcionalidade dos equipamentos e celulares atuais. Nas manifestações, a gente ia para os orelhões e entrava ao vivo ou gravava. Se a manifestação se movimentasse, por exemplo, era preciso ter todos os dados do texto na cabeça porque o orelhão, obviamente, estava pregado no chão e não dava, como hoje, para sair andando atrás e falando

SERGIO AGUIAR

Conte-nos um pouco mais sobre sua trajetória profissional.
Entrei na RECORDTV em janeiro de 2019, a convite do vice-presidente de Jornalismo, Antonio Guerreiro. Adoro televisão, mas, para ser sincero, não nutria, nos primeiros anos após a formatura, nenhuma esperança de trabalhar em um canal de tevê. Achava difícil porque sou tímido e, como disse, não tinha na família nem conhecia ninguém na profissão que pudesse prestar atenção em mim. Imaginei que rádio seria mais fácil por causa da potência da voz, que herdei de meu pai. Entrei na Rádio Tupi do Rio como estagiário, em 1990. Fui contratado e trabalhei lá até 1993. Grande escola. Não havia o conforto nem a funcionalidade dos equipamentos poderosos e celulares atuais. Nas manifestações, por exemplo, a gente comprava ficha de telefone, ia para os orelhões e entrava ao vivo ou gravava. Se a manifestação se movimentasse, era preciso ter todos os dados do texto na cabeça porque o orelhão, obviamente, estava pregado no chão e não dava, como hoje, para sair andando e falando atrás [risos]. Em 1993, a rádio fez um investimento que provocou barulho interno: comprou três celulares, uma tecnologia que estava chegando ao Brasil. Semanas depois, eu e mais alguns fomos demitidos. Costumo brincar que nos trocaram por três celulares [risos].

Na RecordTV, pronto para ancorar mais uma edição da revista dominical

Na RecordTV, pronto para ancorar mais uma edição da revista dominical

ARQUIVO PESSOAL

Foi isso mesmo?
Acho que houve motivações diferentes. No meu caso, pouco tempo antes tinham-me oferecido a possibilidade de ser locutor de uma das maiores tradições do rádio brasileiro: as Sentinelas da Tupi. São boletins diários, nas horas cheias, a qualquer momento. Recusei e expliquei o motivo: como ainda não era formado, e eles, pela natureza dos boletins, com entrada a cada hora, poderiam me acionar a qualquer momento, previ que iria dar problema. Não me disseram o real motivo, não vou saber, mas imagino que, diante dessa recusa, eles tenham ficado sem projeto para mim naquele momento.

E depois da Rádio Tupi?
Fui para a Rádio CBN, na qual fiquei até 1996. Lá, participei das coberturas da morte de Ayrton Senna e do tetracampeonato da seleção brasileira, na Copa de 1994, nos Estados Unidos. Foi também uma fase de muitos sequestros no Rio. Por um ano e meio, nesse período, trabalhei também na extinta TV Manchete. Em 1996, aceitei o convite da diretora Alice Maria para integrar a primeira equipe do canal por assinatura GloboNews, recém-inaugurado. Lá, participei de várias coberturas a vivo, apresentei programas, entre eles o Em Cima da Hora e o Em Pauta, e substituí o Cid Moreira em locuções do Fantástico.

De alguns anos para cá, as medidas de proteção aos jornalistas na cobertura de ações da polícia em comunidades foram aprimoradas. Agora os colegas acompanham com colete, inscrição em destaque, orientação dos policiais sobre quando e para onde seguir, e outros cuidados. Mas, ao menos no Rio, até há bem pouco tempo não era assim. Enfrentei ações em morros com bala comendo e a gente sem nenhuma proteção, se escondendo em casas de moradores, fundos de comércio e tais

SERGIO AGUIAR

Depois disso veio para a RecordTV.
Exato. Em 2019, aceitei o convite do Antonio Guerreiro e estou aqui. Apresentei vários boletins de notícias incluídos na programação, substituí no Jornal da Record o Celso Freitas, que era do grupo de risco, em um período da pandemia, ancorei o JR Trade, o Câmera Record, o Fala Brasil, até chegar ao Domingo Espetacular, ao lado da Carolina Ferraz, que me deixa tranquilo com aquele domínio cênico especial. Sinto-me feliz e honrado. Sou muito bem tratado na casa, que tem profissionais espetaculares. Para dar apenas um exemplo, entre várias premiações, a emissora e o Domingo Espetacular foram indicados ao Emmy Awards 2022, considerado o Oscar da televisão, na categoria Notícias e Assuntos Atuais.

Você passou por apertos em coberturas?
Passei a maior parte de minha carreira, até agora, dentro de estúdios, como apresentador e âncora. Mas no início, como repórter de rua, no Rio de Janeiro, fiz alguns trabalhos arriscados sem a devida proteção. De alguns anos para cá, as medidas de proteção aos jornalistas em cobertura de ações da polícia em comunidades, por exemplo, foram aprimoradas, até mesmo por causa de casos de jornalistas e inocentes atingidos nessas ocasiões. Agora os colegas acompanham com colete, inscrição em destaque, orientação dos policiais sobre quando e para onde seguir, esses protocolos. Mas, ao menos no Rio, até há bem pouco tempo não era assim. Enfrentei algumas ações em morros com bala comendo e a gente sem nenhuma proteção, se escondendo em casas de moradores, fundos de comércio e tais. E os controladores do morro mergulhados até os dentes em armamentos pesadíssimos, muitas vezes mais potentes do que os da polícia.

Queimando calorias na Maratona de Nova York em 2021 e...

Queimando calorias na Maratona de Nova York em 2021 e...

ARQUIVO PESSOAL

Detalhe ao menos uma dessas ações.
Lembro-me de uma na comunidade de Vigário Geral, na zona norte do Rio. Os traficantes mataram um sujeito que tinha violentado sexualmente uma menor. Não satisfeitos, chamaram alguns jornalistas para exibir e comentar o caso. Queriam mostrar aquilo para o país como produto do que consideravam ser Justiça, no caso feita por eles com as próprias mãos. Quando a gente começou a subir o morro devagar, de carro, apareceu uma fila de traficantes com fuzis imensos, alguns maiores do que os caras que os portavam, dos dois lados do carro. Um corredor. Os caras gritavam: “Pode passar, pode passar, por aqui, vá reto, vire aqui”. Nos conduziram até o corpo, esperaram e depois falaram conosco, explicavam a situação na ótica deles... e eu pensando: onde fui me meter? (risos)

Nos estúdios, as pegadinhas são as armadilhas técnicas, sobretudo ao vivo. O microfone para de funcionar, a câmera pifa, aparece uma goteira no estúdio, a luz se apaga em um momento importante, interferência de outros assuntos em transmissões por celular e computador, queda de contato com o repórter ou o entrevistado que está distante, essas coisas

SERGIO AGUIAR

Nos estúdios também ocorrem saias justas, não é mesmo?
Sim, mas de outra natureza. Aqui o problema são os erros e as armadilhas técnicas, sobretudo nas apresentações ao vivo, que hoje, na velocidade do jornalismo, ocupam espaço cada vez maior em relação ao material gravado. O microfone para de funcionar, a câmera pifa, aparece uma goteira no estúdio, a luz se apaga em um momento importante, interferência de outros assuntos em transmissões por celular e computador, queda de contato com o repórter ou o entrevistado que está distante, essas coisas. Aliás, sobre queda de transmissão, todo mundo percebe que, de maneira geral, o número de contatos e entrevistas por videoconferência, via internet, foi multiplicado e o modelo veio para ficar. Com esse aumento absurdo, é até natural que a quantidade de quedas tenha crescido na mesma proporção.

Lembre uma pegadinha da qual você foi vítima em estúdio.
Certa vez estava ao vivo para mostrar um aplicativo da Nasa muito interessante. Decidi baixar o aplicativo no meu celular para projetar a imagem na tela do programa e usar, mostrando o conteúdo e os recursos ao público. Pensei: o único risco era alguém mandar, exatamente na hora da projeção, uma mensagem qualquer para meu celular, que interferiria na imagem do aplicativo da Nasa. Mas logo depos disse a mim mesmo: “Ah, vou fazer, não vai rolar, todo mundo que tem meu contato sabe o período em que estou no ar”. Fiz.

E aí — claro — entrou uma mensagem na tela do seu celular exatamente no momento em que você projetava o aplicativo da Nasa.
Isso. Claro. Exatamente [risos]. E a mensagem era uma bobagem, enviada por alguém cansado de saber que eu estaria no ar naquele momento. Saí com a desculpa da falha técnica, tirei o aplicativo do ar, segui em frente e, também claro, deixei de lado aquele impulso de boa vontade e abandonei a ideia de projetar o aplicativo [risos]. Em estúdio, há também a necessidade de o apresentador ler um texto ou falar de improviso e exibir tranquilidade, equilíbrio, método e sorriso leve mesmo com uma ou duas pessoas falando diretamente no ponto eletrônico que está no seu ouvido. Sobre os pontos eletrônicos, a propósito, a bateria de alguns modelos produz um barulho irritante quando enfraquece. Um tá tá tá tá tá de tirar qualquer um do prumo. Agora imagine você fazendo algum comentário ou lendo um texto ao vivo com aquele tá tá tá no seu ouvido. Mas a gente supera pelo amor à profissão, pelo prazer de estar em programa e emissora com esse quilate, abre aquele sorriso com naturalidade e… o Domingo Espetacular está começando [risos].

...feliz e realizado com a medalha de conclusão da prova

...feliz e realizado com a medalha de conclusão da prova

ARQUIVO PESSOAL

O que você mais gosta de fazer quando não está trabalhando?
A paixão pela leitura foi uma das minhas motivações para buscar o jornalismo. Então ler é um dos meus prazeres. Acompanho notícias na tevê, jornais, rádios, revistas e internet com intensidade mesmo nos momentos de folga. Nós, jornalistas, não conseguimos nos desligar por completo, mas às vezes preciso me policiar para não permanecer com a cabeça ligada no trabalho e exagerar nesse ponto [risos]. Gosto de viajar, de conhecer lugares novos e de praticar minha mais nova paixão: correr.

Fiz uma série para o Fala Brasil sobre minha participação na Maratona de Nova York em 2021. Espero correr a minha segunda agora, em 2023, e, quem sabe, fazer novo registro para a RecordTV. Além do prazer e dos benefícios para a saúde, considero uma forma de estimular as pessoas a praticar atividade física e sair do sedentarismo

SERGIO AGUIAR

Verdade?
Sim. Iniciei-me nas corridas há sete anos, aos 46. Foi uma das melhores descobertas de minha vida. Fisgou-me de vez e me levou inclusive a disputar e concluir provas importantes fora do Brasil, entre elas a edição de 2021 da Maratona de Nova York, a mais importante do mundo. Fiz uma série para o Fala Brasil sobre minha participação nessa prova. Espero correr a minha segunda agora, em 2023, e, quem sabe, fazer novo registro para a RecordTV. Além do prazer e dos benefícios para a saúde, considero uma forma de estimular as pessoas a praticar atividade física e sair do sedentarismo. Correndo, conheci várias cidades por ângulos e situações diferentes dos encontrados normalmente pelos turistas. Isso é muito bacana. Correr, para mim, é um detox. Vou dar uma corrida assim que a gente acabar esse papo.

Corre todo dia?
Não. Gosto de me preparar para corridas mais longas e fazer grandes trechos todos os dias seria muito desgastante para o corpo. Corro quatro vezes por semana, 10 km entre segunda e sexta e de 12 a 16 km nos fins de semana. Somados os quatro trechos, corro distâncias semanais próximas dos 42 km e 195 m oficiais de uma maratona, muitas vezes até um pouco mais.

Correr sua primeira Maratona de Nova York em meio a uma pandemia deve ter sido uma experiência emblemática.
Totalmente. Nova York estava fechada ao turismo e aos estrangeiros. No dia seguinte iria abrir. Mas os moradores da cidade, que se envolvem muito com a prova, estavam liberados para ir às ruas, com sua máscara e cuidados, acompanhar a disputa. Foi uma demonstração emocionante de resistência. Em todos os aspectos.

Muito obrigado.
Conversa bacana. Eu é que agradeço.

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